domingo, 23 de dezembro de 2012


Incentivos ao uso da bicicleta podem melhorar a segurança pública?

Enrique Peñalosa - Foto: Fronteiras do Pensamento/Divulgação
A resposta está neste trecho da entrevista de Enrique Peñalosa ao Aliás, caderno especial do jornal O Estado de São Paulo. Para o economista, historiador e ex-prefeito de Bogotá, “segurança não é só assunto de polícia: tem a ver com urbanismo, mobilidade e cultura”. Segundo ele, uma cidade só é feita com gente na rua – e o incentivo ao uso da bicicleta contribui para isso.
Em sua gestão como prefeito da capital colombiana, reduziu drasticamente o índice de homicídios na cidade, antes considerada uma das mais violentas da América Latina. O caminho foi investir em ações voltadas à mobilidade e à sustentabilidade. Peñalosa diz que não podem haver regiões abandonadas pelo poder público. O Estado deve estar presente em todos os cantos da cidade e os espaços públicos devem ser ocupados, tornando-se espaços de convivência e não apenas de passagem. Todos os cidadãos devem ser valorizados e deve-se passar a mensagem de que todos são importantes para o Estado, não apenas quem reside em áreas mais nobres ou centrais.

E onde entra a bicicleta nesse contexto?

“Numa sociedade como a nossa, muitos cidadãos não têm carro, mas precisam se deslocar diariamente para trabalhar, por exemplo. Então adotamos o TransMilenio, um sistema de ônibus inspirado no modelo de Curitiba, e construímos centenas de quilômetros de ciclovias”, conta Peñalosa. “Por quê?” – pergunta a reportagem. “Para dizer que um cidadão numa bicicleta de US$ 30 é tão importante quanto um cidadão num carro de US$ 30 mil”.
Um bom sistema de transporte público e o incentivo e a garantia de uso seguro da bicicleta democratizam o deslocamento. Todos os cidadãos são importantes para uma cidade, não apenas os que se deslocam em automóveis, não apenas os que residem em áreas valorizadas. E isso precisa ficar bem claro, através de ações práticas. Não se trata de assistencialismo, mas de tratar a todos os cidadãos como pessoas de valor, oferecendo os mesmos serviços e as mesmas oportunidades.
“Nas zonas mais marginais da cidade, construímos bibliotecas, colégios de luxo, jardins sociais, programas de nutrição, projetos de infraestrutura. Uma das principais ideias era levar escolas, tão boas quanto os melhores colégios particulares, para os cantos mais pobres da cidade. Queríamos mostrar respeito pela dignidade humana. Se o Estado não respeita a vida humana, por que os bandidos o fariam? É uma questão de igualdade, o que é muito diferente de simplesmente dar esmola aos mais pobres. Uma cidade precisa de símbolos de igualdade e de democracia”.

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