sexta-feira, 14 de novembro de 2014

pra funcionar

Para as coisas virarem realidade o esforço necessário tem que ser menor do que o esforço realizado.

E quando se trata do governo ou o necessário tem que ser mínimo ou o realizado tem que gerar um lucro absurdo (não necessariamente para a sociedade).

Apesar das enormes mudanças ocorridas nos últimos cinco anos, Curitiba ainda não é uma cidade amiga dos ciclistas. Ainda não é seguro nem confortável pedalar por aqui.

A geografia é perfeita. Não somos como Copenhagen ou Ubatuba, tudo plano. Mas quem acha que ladeiras são um empecilho é quem não pedala. Não sabe que depois de pouco tempo pedalando você deixa de ter medo das subidonas e começa a procurá-las, para aumentar o desafio, a diversão.

O clima é, na minha opinião, ótimo. Não é tão quente quanto no Rio e as chuvas são bastante previsíveis. Só a poluição e a secura do ar que incomodam um pouco.


O único problema real é o convívio com os veículos motorizados.

Faz parte da cultura e da organização viária a preferência absoluta ao carro. A própria Setrans, que é quem cuida da engenharia de tráfego, que deveria cuidar do tráfego de gente, funciona exclusivamente para o tráfego de automóveis. Poe a fluidez (sonhada, mas estruturalmente impossível) na frente da vida.

Essa política pública é tão óbvia que qualquer motorista se acha no direito de por em risco a vida dos ciclistas. As finas “educativas”, as ameaças dolosas, os insultos e a incapacidade de enxergar fazem parte da rotina.

A bicicleta está na moda. O mundo já está tão zuado que ficou impossível para políticos e empresários falar em público sem demonstrar preocupações ecológicas. Quem não faz o seu greenwashing tá fora. A bicicleta é a menina dos olhos. É cool, é sustentável, é moderna, é barata, é bonita. Pode reparar como ela aparece em tudo quanto é tipo de comercial de tv. Lá no fundo sempre tem uma bicicleta passando livre, leve e solta.

Medidas simples como paraciclos em alguns locais,vias calmas e ciclofaixas aos domingos são brutos sucessos.


Sendo assim, não dá pra entender como e por que a prefeitura de Curitiba ainda não tomou duas medidas estupidamente simples, ofensivamente baratas e com retorno de imagem (votos) líquido e certo: a inclusão da bicicleta na sinalização viária e o policiamento de bicicleta nas áreas centrais da cidade.

Eles vivem repintando as ruas (pelo menos no centro), custaria quase zero incluir sinalização indicativa de que existe um veículo estranho chamado bicicleta que também tem o direito de circular por ali.

A cidade de Glasgow, que é uma das várias cidades que já experimentou o sucesso de botar os policias pra pedalar, chegou a brilhante conclusão que pelo preço de comprar e manter UMA ÚNICA viatura é possível manter na rua QUINZE policiais de bicicleta. Faça a matemática. É ridículo.

Essas duas medidas demorariam o que, seis meses para serem colocadas em prática? Elas acabariam de vez com a ideia errada de que as bicicletas não pertencem às ruas. Tornariam o trânsito e, consequentemente, a cidade mais humanas. Menos gente morreria. Mais gente se empolgaria a pedalar. A obesidade da população diminuiria. Haveria menos poluição. A polícia se aproximaria das pessoas. Não consigo ver um bom motivo para não fazer.

Não conheço nada dos meandros da política, mas se eu fosse cicloativista deixaria de lado todo o resto e me pautaria exclusivamente nesses dois pontos. Todo o resto viria a roldão.

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