Bicicletas e furtos
Quando mais pessoas passam a optar por pedalar pode surgir uma
consequência nem sempre imaginada, o aumento no furto de bicicletas. A
afirmação soa até mesmo óbvia e beira o senso comum. Mas é preciso
encará-la como mais um desafio.
Veículos baratos, simples, produzidos em larga escala e expostos em
estacionamentos ao ar livre, as bicicletas furtadas são difíceis de
serem encontradas ou até mesmo rastreadas. Pelo baixo preço e facilidade
de reposição, os usuários costumam se preocupar pouco e além disso a
facilidade do furto e o baixo custo inviabilizam seguros financeiros.
O exemplo de nações mais amigas da bicicleta dá a pista que toda a
bicicleta eventualmente se torna um veículo “público”, ainda que de
maneira forçada. Apenas um objeto que eventualmente terá de ser
substituído por conta de um furto.
Mesmo em Londres e em toda a Holanda, por exemplo, as autoridades
policiais declaram-se incapazes de solucionar o problema do furto de
bicicletas. Recomendam medidas de prevenção por parte de quem pedala.
O primeiro passo certamente passa pela escolha de um bom local para
estacionar, somado a trancas de qualidade. É importante ter a noção de
que trancar bem a bicicleta é algo que tem um custo financeiro na compra
da tranca, e de tempo, mas que funciona como o seguro da bicicleta. Uma
conta aproximada é gastar 20% do valor de compra da bicicleta em
trancas de qualidade (às vezes mais de uma pode ser fundamental).
Mas impactos mais duradouros que enfrentem o aumento nos furtos de
bicicleta precisam de iniciativas mais amplas. O mercado paralelo cresce
à medida que mais bicicletas entram no mercado formal, então, onde
houver pessoas pedalando, haverá pessoas que compram bicicletas de
origem duvidosa. Campanhas de esclarecimento podem ser úteis e feitas
pelo poder público ou pela sociedade civil. Medidas para coibir o
mercado paralelo são sempre úteis, ainda que por sua própria natureza
informal tornem esse mercado extremamente ágil em se adaptar.
Há portanto poucos motivos para esperar soluções coletivas para o
problema dos furtos de bicicletas. Mas é importante fazer uma grande
diferenciação entre os furtos e roubos no Brasil e em nações europeias
com grande uso da bicicleta. Enquanto por aqui é comum o roubo com uso
de violência, na Europa o comum são apenas os furtos, um ilícito que
passa longe de qualquer ameaça contra a integridade física das pessoas e
que simplesmente aproveita a oportunidade de surrupiar um bem alheio.
Nessa distinção entre roubos e furtos no Brasil e no exterior é
preciso ter algumas pistas sobre como o abismo social brasileiro mostra
sua face mais cruel. Por aqui ameaçar alguém para subtrair um bem
material é algo corriqueiro. Já em países em que a diferença entre os
muito ricos e os muito pobres é menor, a violência física para subtrair
uma bicicleta é menos comum, para não dizer inexistente.
Tem até sites para levantamentos de dados sobre violência urbana e
pelos pontinhos no mapa, as bicicletas ainda são vítimas menos
frequentes.
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