terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Bicicletas e furtos

 Bicicletas e furtos                  

Quando mais pessoas passam a optar por pedalar pode surgir uma consequência nem sempre imaginada, o aumento no furto de bicicletas. A afirmação soa até mesmo óbvia e beira o senso comum. Mas é preciso encará-la como mais um desafio.
Veículos baratos, simples, produzidos em larga escala e expostos em estacionamentos ao ar livre, as bicicletas furtadas são difíceis de serem encontradas ou até mesmo rastreadas. Pelo baixo preço e facilidade de reposição, os usuários costumam se preocupar pouco e além disso a facilidade do furto e o baixo custo inviabilizam seguros financeiros.
O exemplo de nações mais amigas da bicicleta dá a pista que toda a bicicleta eventualmente se torna um veículo “público”, ainda que de maneira forçada. Apenas um objeto que eventualmente terá de ser substituído por conta de um furto.
Mesmo em Londres e em toda a Holanda, por exemplo, as autoridades policiais declaram-se incapazes de solucionar o problema do furto de bicicletas. Recomendam medidas de prevenção por parte de quem pedala.
O primeiro passo certamente passa pela escolha de um bom local para estacionar, somado a trancas de qualidade. É importante ter a noção de que trancar bem a bicicleta é algo que tem um custo financeiro na compra da tranca, e de tempo, mas que funciona como o seguro da bicicleta. Uma conta aproximada é gastar 20% do valor de compra da bicicleta em trancas de qualidade (às vezes mais de uma pode ser fundamental).
Mas impactos mais duradouros que enfrentem o aumento nos furtos de bicicleta precisam de iniciativas mais amplas. O mercado paralelo cresce à medida que mais bicicletas entram no mercado formal, então, onde houver pessoas pedalando, haverá pessoas que compram bicicletas de origem duvidosa. Campanhas de esclarecimento podem ser úteis e feitas pelo poder público ou pela sociedade civil. Medidas para coibir o mercado paralelo são sempre úteis, ainda que por sua própria natureza informal tornem esse mercado extremamente ágil em se adaptar.
Há portanto poucos motivos para esperar soluções coletivas para o problema dos furtos de bicicletas. Mas é importante fazer uma grande diferenciação entre os furtos e roubos no Brasil e em nações europeias com grande uso da bicicleta. Enquanto por aqui é comum o roubo com uso de violência, na Europa o comum são apenas os furtos, um ilícito que passa longe de qualquer ameaça contra a integridade física das pessoas e que simplesmente aproveita a oportunidade de surrupiar um bem alheio.
Nessa distinção entre roubos e furtos no Brasil e no exterior é preciso ter algumas pistas sobre como o abismo social brasileiro mostra sua face mais cruel. Por aqui ameaçar alguém para subtrair um bem material é algo corriqueiro. Já em países em que a diferença entre os muito ricos e os muito pobres é menor, a violência física para subtrair uma bicicleta é menos comum, para não dizer inexistente.
Tem até sites para levantamentos de dados sobre violência urbana e pelos pontinhos no mapa, as bicicletas ainda são vítimas menos frequentes.

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